One way or another

'Sabes, quando me sento na mesa de vidro para limpar a alma e chegar ao mundo com as minhas palavras, penso muitas vezes em ti. Estás nas músicas que oiço, no ar que respiro e vejo-te à janela, a fumar um charro e a inventar mais umas quantas piadas que fazem rir multidões. O fado coimbrã canta-nos ao ouvido sempre demasiadas coisas que falam de ti e de nós e eu sorrio na minha solidão povoada porque sei que nunca mais me vou sentir sozinha, mesmo que estejas do outro lado do país à procura dos teus sonhos e distraído com outras miúdas que não fazem a mínima ideia o que é o fado coimbrã, nem de que côr pode ser o céu em Coimbra quando imita as pedras da calçada. Andas por aqui, às vezes vejo-te a abraçar-me com cuidado enquanto escrevo, ou a aconchegar-me o lençol até ao pescoço. Depois sais sem fazer barulho e fazes-te outra vez à estrada, rumo a essa terra que eu nem sei onde fica...e eu fico a ver-te ir, e no dia seguinte acordo como se o mundo começasse outra vez. É bom ter-te na minha vida silencioso e secreto, guardado nas palavras dos poetas, como quem vive na cartola de um ilusionista, como quem escolheu o seu lugar do lado de fora. E eu sou a rapariga do trapézio que te vê acima do mundo, enquanto a vida me leva e traz as coisas boas e más, num movimento suave e perpétuo do qual, por agora, não quero descansar...'

"A espera é só o tempo de deixar crescer aquilo que há-de ser."

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Ao som de "Como vai você?",

Daniela Mercury